Chapter Text
O Sol acaba de se pôr e todos já foram embora. Estamos apenas Andrea e eu… sozinhas. E eu tenho essa estranha sensação de que não é uma boa ideia.
Eu não a vi desde que chegou do hospital, espero que não esteja morta no quarto de hóspedes. A casa está finalmente calma e tranquila. Estou ouvindo uma melodia francesa, I Wish You Love, cantada em francês enquanto cozinho e cantarolo baixinho.
ANDREA - O cheiro está bom aqui.
Dou um leve sobressalto de susto e me viro, Andrea está encostado na porta de pijama, roupão e chinelos. Seu rosto limpo, sem qualquer maquiagem e um sorriso brilhante e terno. Sua presença me desarma. Não posso ficar sozinha com essa menina.
MIRANDA - Coq Au Vin… Frango cozido em vinho tinto.
ANDREA - Comida francesa... música francesa...
MIRANDA - Vivi muito tempo em Paris, adoro a França, não consigo me desprender da cultura de lá.
ANDREA - Parte do meu livro é em Paris.
MIRANDA - Como está se sentindo?
ANDREA - Bem, eu errei todo o caminho até aqui, apenas esbarrando em duas cadeiras e um pufe.
MIRANDA - Todo mundo esbarra naquele pufe.
Andrea me olha um pouco pensativa e por um momento me distraio olhando para seus olhos, brilhando como uma noite estrelada. Antes que tudo fique estranho, o telefone toca.
ANDREA - Ei, obrigada por me deixar ficar...
MIRANDA - Sim... está tudo bem.
Atendo o telefone.
MIRANDA - Olá. Sim, ela está.
Passo o telefone para Andrea. Para variar, a ligação não é para mim e para variar mais ainda, é uma mulher.
ANDREA - Olá. Ei docinho... Oh, você recebeu meu presente? Você gostou?
Isso é irritante. Ela está flertando com alguém na minha frente? Por que ela não vai para outro lugar, simplesmente? Não aguento isso. Coloco meus óculos e tento me concentrar no livro de receitas.
ANDREA - Ei, posso te ligar daqui a pouco? Diga a sua mãe para aguardar minha ligação… Okay... Te ligo daqui a pouco.
Ela desliga e devolve o telefone para o gancho.
MIRANDA - Olha, Andrea, não é como se fosse um esforço de imaginação saber que não acho você certa para a minha filha, eu posso tentar lidar com isso, mas não gosto muito de ouvir você ao telefone com outras mulheres. É como se eu fosse uma cúmplice de sua traição, é...
ANDREA - Sua filha sabe que vejo outras mulheres.
MIRANDA - Ela sabe? Quer dizer, tudo bem, não é da minha conta... mas…
Tento abrir a garrafa de vinho mas minha irritação me deixa desconcentrada.
ANDREA - Ela sabe que não sou monogâmica e ela também não é... Já discutimos isso.
MIRANDA - Ótimo! E isso é o quê? Você está orgulhosa disso?
ANDREA - Não me orgulho. Apenas sou honesta. Sua filha disse que gosta disso em mim.
Ela pega o vinho de minha mão e abre com facilidade.
MIRANDA - Minha filha fica confusa quando se trata de relacionamentos.
ANDREA - Eu não a culpo. Estamos todos confusos, não?
Ela me entrega a garrafa de vinho aberta e sorri.
ANDREA - Não que seja da sua conta, mas eu estava falando com minha afilhada.
MIRANDA - Ah, sim. Ela tem a idade da minha filha?
ANDREA - Não. A pessoa com quem você falou é a babá dela, ela tem cinco anos. Amelie Charlton. Não vou desrespeitar você dentro de sua casa, Miranda.
Ela dá as costas e se retira, eu quis pedir para que ela ficasse, mas não consegui. Charlton, esse sobrenome não me é estranho.
EXTERIOR DA CASA
Após terminar de preparar o jantar, acabei por chamá-la para se juntar a mim. Estamos sentadas na mesa externa, que fica no deck de frente para a piscina, sob um céu roxo. Outra melodia francesa toca, La Vie En Rose de Louis Armstrong. O clima seria romântico se não fosse o nosso desconforto gritando em silêncio.
Nada é dito. Apenas duas pessoas comendo como estranhas. Somos estranhas, afinal?
QUARTO
Estou trabalhando em meu laptop em uma mesa no meu quarto. É por volta de uma da manhã e eu não aguento mais esse telefone tocando, quando Andrea finalmente atende, eu fico encarando a luz da Linha 2. Por que estou tão tentada em fazer algo errado?
MIRANDA - O que eu estou fazendo?
Tiro o telefone do gancho com cuidado e ouço a conversa de Andrea, isso é tão errado.
ANDREA - Que bom, porque demorou para minha assistente encontrar.
AMELIE - Você está bem mesmo? Te deram um curativo de bichinhos.
ANDREA - Estou bem, querida. Mas não me deram um curativo legal, os curativos de adulto são chatos.
A criança ri do outro lado da linha.
ANDREA - Okay, está na hora de você dormir. Deixe-me falar com sua mãe.
EMILY - Ela não quis dormir sem antes saber que você estava bem.
Eu conheço essa voz.
ANDREA - Teimosa como a mãe.
EMILY - O que você andou aprontando dessa vez para acabar com a cabeça rachada?
ANDREA - Você não imagina. Estava saindo com uma garota e…
EMILY - Sempre tem uma garota envolvida.
ANDREA - Sim, mas descobri que ela era a filha de Miranda.
EMILY - Quem?
ANDREA - Miranda Fucking Priestly!
EMILY - Putz, me diz que você fugiu no momento seguinte?
ANDREA - Na verdade, não…
EMILY - Você é maluca? Foi ela que rachou sua cabeça?
Andrea ri do outro lado da linha.
ANDREA - Não! Eu tropeçei no tapete enquanto brincava com Carol.
EMILY - Só você para conseguir essa proeza.
ANDREA - Acontece que estou hospedada na casa dela nos Hamptons. Carol foi para a cidade e estamos sozinhas aqui.
EMILY - Ela está te torturando muito?
ANDREA - Eu consigo lidar com ela, certo? Difícil é não reagir com o quão sexy ela é.
EMILY - Humm… nem me fale. Se já é difícil trabalhar para ela, imagine estar em uma casa, na praia… Sozinhas.
ANDREA - Sério, ela é muito quente. E toda vez que ela me olha séria, eu fico me contorcendo para não ficar dura, não quero desrespeitá -la em…
Desligo rapidamente o telefone para não ouvir mais nada. Já estou traumatizada o suficiente com o que ouvi. Céus! Isso é tão errado. Tudo está tão errado. Ela sai com a minha filha e fica excitada com minha presença? Agora é que eu não vou conseguir trabalhar.
Após alguns minutos tentando processar as novas informações, levanto-me e vou até seu quarto, a porta está aberta e enquanto me aproximo, percebo que ela está com um copo de whisky na mão, ainda ao telefone. A blusa do seu pijama está com os três primeiros botões abertos, exibindo a saliência de seus seios, seu cabelo está um pouco desgrenhado, a cama está uma bagunça e o laptop aberto ao lado. Fico parada na porta, encostada com os braços cruzados, mas ela ainda não me notou.
ANDREA - Eu sei! É loucura, não...
Ela está absurdamente sexy, como alguém pode ficar tão bem mesmo bagunçada? Assim que ela percebe a minha presença, esconde rapidamente seu whisky.
ANDREA - Olha, eu te ligo depois, certo?
Ela me olha um pouco assustada.
ANDREA - Hey. Quanto tempo você está aí?
MIRANDA - Okay, é o seguinte. Eu realmente não quero fazer o papel de enfermeira chata com a sua paciente bad girl. Se você quer ter outra síncope, vá em frente, é a sua vida, mas eu tenho trabalho a fazer e não tenho tempo de voltar ao hospital porque você está enchendo de álcool seu sangue que já está com outros medicamentos, mas o mais importante, prefiro que minha casa não cheire a um bar.
Me aproximo e estendo a mão para que ela me dê o copo. Ela revira os olhos e me entrega.
ANDREA - Eu tenho uma pergunta para você.
Ela nada diz e eu apenas a encaro. O que ela está esperando?
MIRANDA - O quê? Eu tenho que dizer "o quê"?
ANDREA - Você sempre foi assim ou eu faço isso com você?
Continuo a encarando. Pisco algumas vezes sem saber o que responder.
ANDREA - Acho que nunca tive esse efeito em uma mulher antes.
MIRANDA - E que efeito você acha que está tendo sobre mim?
ANDREA - Não reconheço bem, mas sei que nunca aconteceu antes.
Reviro os olhos enquanto confisco sua garrafa de whisky.
ANDREA - Então você não dorme?
MIRANDA - Eu só preciso de cerca de quatro horas por noite.
ANDREA - Eu me lembro, você deixava recados em meu celular até três da manhã. Mas eu também fiquei assim com um tempo. Nunca durmo oito horas.
MIRANDA - Eu também. Eu queria poder… mas é mais produtivo…
Caminho até às longas janelas de vidro.
MIRANDA - Quer que eu feche isso, o sol chega bem forte de manhã.
ANDREA - Certo... obrigada…
Sem olhá-la, enquanto prendo as cortinas, pergunto o que está coçando em minha garganta.
MIRANDA - Com quem estava falando a esta hora?
ANDREA - Emily, ficamos amigas desde que saí da Runway.
MIRANDA - Eu deveria saber quem é?
ANDREA - Está brincando? Ela foi sua melhor assistente!
MIRANDA - Impossível, minha melhor assistente foi vo… Não importa, não me lembro.
ANDREA - Okay, ruiva, olhos azuis raivosos, sempre neurótica e irritada, britânica…
MIRANDA - Oh, sim… lembro-me vagamente. Já não passou da hora de dormir?
ANDREA - Então, você parece ter mais ciúmes de mim do que sua filha.
MIRANDA - Boa noite, Andrea.
Digo irritada e me viro para sair.
ANDREA - Posso te perguntar mais uma coisa?
Respiro profundamente buscando calma e me volto para ela.
ANDREA - Você mexeu no telefone há alguns minutos… enquanto eu estava usando?
MIRANDA - Não seja tola, por que eu faria isso?
ANDREA - Apenas estou curiosa. Eu ouvi um barulho enquanto falava com Em, não foi na casa dela e com certeza não foi no meu quarto.
Engulo seco.
MIRANDA - Eu estava trabalhando, não tenho tempo para ficar no telefone.
ANDREA - Hum… boa noite, Miranda.
Ela sorri e eu dou as costas, finalmente saindo de seu quarto. Inferno! Devo ter feito barulho quando coloquei nervosa o telefone no gancho.
QUARTO
Uma hora depois, estou trabalhando em meu quarto. Vejo que Andrea desligou a luz do quarto dela, ela finalmente foi dormir. Desligo o computador e fico sentada por um segundo, estico meu corpo me alongando. Faz tempo que não me sinto tão abalada assim por alguém, a última vez… bem, ela era minha assistente, mas agora parece mais… intenso. E não, eu não gosto disso. Levanto-me e começo a me despir.
Tiro minha blusa, em seguida meu sutiã, depois minha saia e, em seguida, minha calcinha.
Completamente nua, atravesso o quarto a caminho do banheiro. Eu passo pela porta que está aberta e olho para o corredor.
Inferno!
Andrea está lá parada com os olhos saltando de sua face. Seus olhar estuda todo meu corpo, antes dela colocar as duas mãos na frente e eu correr para o banheiro.
MIRANDA - O que pensa que está fazendo, sua... pervertida!
ANDREA - Eu sinto Muito! Oh, Deus, sinto muito.
MIRANDA - O que você está fazendo na porta do meu quarto?!?
ANDREA - Tentando encontrar a cozinha!
MIRANDA - Aqui??
ANDREA - Eu fiquei confusa! Estava escuro. Eu realmente não vi nada.
Respiro aliviada!
ANDREA - Apenas seus seios e um pouco de sua...
Bato a porta irritada e ouço os quadros do corredor caírem no chão.
ANDREA - Agora sim ela vai me matar.
Ouço Andrea murmurar e depois apenas o silêncio.
Esse fim de semana está um desastre, uma catástrofe atrás da outra. Não acredito que minha ex-assistente me viu nua, oh, céus! Pode piorar?
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Próximo capítulo:
Sorri ternamente. Meu humor está radiante, algo absolutamente raro.
MIRANDA - Eu sei. Você quer entrar?
ANDREA - Não quero invadir sua privacidade nem nada.
MIRANDA - Acho que é tarde para isso.